Por Marcio Curvello | AMC Photopress
No coração da Tijuca, dentro do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), o silêncio das salas de aula cede lugar ao som dos passos descalços no tatame. Ali, crianças e jovens aprendem muito mais do que técnicas de defesa ou queda. Aprendem a cair — e a levantar. Aprendem, sobretudo, a conviver. O judô, há 25 anos, faz parte da formação de centenas de estudantes da escola pública graças à dedicação e visão do professor Carlos Losso.

Kodansha 6º dan, educador e veterano no ensino do judô, Losso é responsável por dois projetos que integram o esporte ao cotidiano escolar: o Esporte Educacional e o Crescendo com Esporte. Com uma metodologia pensada para cada faixa etária, ele transforma o tatame em um espaço de valores, aprendizado e inclusão.
“O judô é uma filosofia de vida. Formamos cidadãos, não apenas atletas. É uma ferramenta que ensina ética, respeito e resiliência”, resume o professor.
O Judô como Ferramenta Educacional
O projeto Esporte Educacional atende alunos de 7 a 14 anos no contraturno escolar. Ali, o judô é praticado com quimono e com foco em valores socioafetivos como autocontrole, disciplina e empatia. É uma iniciação ao esporte que não visa competição, mas formação humana.
Já o Crescendo com Esporte, voltado para crianças da pré-escola (4 a 6 anos), oferece uma introdução lúdica à prática. As aulas são conduzidas de forma leve e sem a obrigatoriedade do judogui, permitindo que os pequenos experimentem o ambiente do dojô com naturalidade.

“As crianças nem percebem que estão aprendendo os fundamentos do judô. Para elas, é brincadeira. Mas por trás disso, há um trabalho pedagógico profundo”, explica Losso.
Esse trabalho de base, segundo o professor, facilita o desenvolvimento motor e social dos alunos, além de criar um vínculo afetivo com o esporte — uma semente que pode germinar em futuras trajetórias dentro e fora dos tatames.
Desafios no Ensino Médio Técnico
Mesmo com a adesão crescente dos pequenos, integrar os alunos do ensino médio técnico — oferecido pela FAETEC no mesmo complexo educacional — continua sendo um desafio. A rotina intensa dos cursos dificulta a participação regular nas aulas de judô.

“Muitos alunos querem participar, mas não conseguem por causa da carga horária. Os que conseguem, acabam se destacando não só no esporte, mas também em postura e liderança”, relata Losso.
Para ele, o desafio não é apenas adaptar horários, mas mostrar que o judô pode ser um apoio à formação técnica, contribuindo para o desenvolvimento de jovens mais focados, disciplinados e proativos.
Do Japão para o Brasil: Uma Experiência Internacional
Em 2019, Losso teve a oportunidade de expandir ainda mais sua visão ao ser um dos 10 professores brasileiros selecionados para o programa Sport for Tomorrow, promovido pelo governo japonês. Durante um mês, participou de treinamentos e aulas na Universidade de Tsukuba e no Kodokan — berço do judô mundial.

“Foi uma experiência transformadora. Vi como o judô está integrado à educação no Japão e adaptei essa realidade para o nosso contexto. É possível, sim, fazer do esporte uma base para a escola pública brasileira”, afirma.
As lições trazidas do Japão foram aplicadas não só no ISERJ, mas também nos outros polos da Equipe Judô Losso, com sedes na Tijuca, Barra da Tijuca e Niterói.
Formar Cidadãos, Não Apenas Atletas
O impacto do judô na vida dos alunos vai além das técnicas e competições. Muitos jovens encontraram no esporte um canal para expressar emoções, lidar com conflitos e construir uma identidade pautada no respeito ao próximo.

“Ver os alunos se tornarem mais responsáveis, mais empáticos e conscientes é o que realmente me motiva. Nosso objetivo é formar cidadãos”, finaliza Carlos Losso.
Em um país onde o esporte escolar ainda enfrenta obstáculos, a atuação de educadores como Losso mostra que é possível — e necessário — acreditar na força do tatame como extensão da sala de aula. No ISERJ, cada queda no chão vem acompanhada de uma lição de vida. E cada faixa amarrada na cintura é também um símbolo de pertencimento, coragem e transformação.
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*Graduado em Fotografia; Pós-Graduado em Jornalismo; Pós-Graduando em Fotojornalismo.
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